Recife dos meus Olhos
Estou com uma saudade doída.
Daquela que amassa o peito da gente
E deixa a criatura assim, meio boba,
Sem saber o que pensar. O que dizer.
Ai que saudade sofrida!
Estou me vendo na Rua do Bom Jesus
Arruando por meu Recife,
Sem paradas,
Sem rumo certo...
Tropeçando naquele “monte” de gente
Andando com pressa pra não perder a hora
Acenando para o ônibus lotado
Naquele trânsito que nunca é deserto
Num “ruge ruge” endiabrado.
Só quero receber as carícias do seu vento morno
Que canta sibilando fazendo coro com o rio
Que corre serpenteando dividindo o coração da cidade
E caindo molengo dentro daquele mar morno, único.
Quero as pernas bambas dos bêbados das madrugadas
Que cantam pelas ruas tortas tropeçando na história
Das violas enluaradas de outrora.
Quero atravessar as pontes revestidas de ferro e cores
E sentir o cheiro dos manguezais e ver os caranguejos
Se contorcendo nas cordas dos pescadores.
Quero o frevo rasgado que faz tremer o chão
Debaixo das sombrinhas coloridas
Levadas para equilibrar os passos, erguidas na mão.
Ai que saudade dos frevos de bloco
Dos maracatus, do samba meio torto que vem atrevido.
Do forró, das feiras e dos mercados, do xaxado e baião.
Dos coqueiros requebrando nas praias que choram no meu coração.
Ai que saudade, Recife... De tu... E de mim... Do meu tempo. Do teu chão!
Lígia Beltrão