ROSA
Rosa cresceu no jardim
Menina rosa, dama carmim.
Logo, espinhos pariu
Canteiro mudo, terra adubada.
Dona de si: floriu!
Haste vertical de madeira lhe sustentava
Sem graça, magra, descabelada, nua
Sentiu-se abusada. Tanto fez que a haste
Gemeu, estalou
Partiu
Caiu, agoniada
A rosa despreparada, ingrata
Valente, errante, linda, radiante
Aborreceu-se!
Mundo ingrato, exclamou.
Das minhas pétalas desdenha
Sem haste, de pé não fico
Dela não preciso. Prefiro o suicídio
A implorar; pedaço fino de ripa
Miúdo, franzino.
Eu! A mais linda dama que existiu
Amuada, cometeu o suicídio: despetalou-se.
Sem sentir o sofrimento alheio
Preso entre os muros.
O latido de um cão se fez ouvir.
Foto: Tela a óleo: Flores da primavera - Claude Monet - óleo sobre tela - 91 x 116 cm - 1864