Rotinas & Rotina.
Há dias, na vida, que levantamos saturadas do nosso dia a dia, sem saber porquê. Dai para a ira é um passo. "Não temos motivos", pelo menos conscientes. E se estivermos na TPM... Nossa! Sai de baixo. Melhor sai porta fora, por quem nem nós mesmas nos aturamos. E, justamente, nesse dia, tudo parece conspirar para piorar nossas emoções. A rotina também cansou e deixou de ser rotina. Situações costumeiras, parecem criar vida e agir por conta própria. Bem, pelo menos não estamos só. Algo nos faz companhia... E se for algo mau? A conspiraração pode virar atitude...
Só sei que tudo vem ao nosso encontro, para perdermos as tamancas. Parece dizerem: - "Vou te irritar! Vou te irritar!".
Chegamos, rapidamente, ao Muro das Murmurações. Monologamos e respondemos revoltadas, para nós mesmas... Nós mesmas? Não! Temos um ouvinte. Mudo como o Mister Been! Só que o nosso não gesticula, não faz poses e nem caretas, para que o entendamos. Temos o Mister Estátua! Será que a rotina, nos levou de volta ao amiguinho imaginário? Já que só nós conseguimos falar com ele! Ninguém o vê...
Deixemos de lado o prolixo, e voltemos ao assunto. Voltemos ao Muro das Murmurações.
- A casa está toda desarrumada! Nosso Mister X, que adora, botar lenha na fogueira, cochicha, ao pé do nosso ouvido:
- E daí? Olha só! Olha? Sim, porque se dialogamos com o fulano, é porque o vemos. Será?
Escorregamos o dedo indicador por um móvel ... Meu Deus, quanto pó... Ontem passei lustra-móveis em tudo! Pensamentos de vingança nos surgem: Vai ficar tudo assim. Também mereço meu dia de folga... Ou será de greve doméstica?
Nossa "revanche" fervilha sem trégua. Tudo fora dos lugares. Tênis, camiseta, caderno! E continuamos:
- Nessa casa, eu sou uma empregada! Empregada? Não. Uma escrava! Não vou mexer uma palha para eles sentirem a...
Mas, ... e se chegar visita? A casa... assim? Parece que um furacão pas... Que se dane! Quem vier, aqui, prá reparar não é minha amiga! Então, que nem venha! Quero amigos! Não quero críticos! Não sou artista, nem escritor! Muito menos um cineasta, ora...
Louça, louça e mais louça. Suja! Isso é um abuso! Cada um tinha que lavar o que usou...
- E esse banheiro? Todo molhado? Roupas...! Não, eu não aguento mais! Estou no meu limite! Hoje vou dar um basta! Vou dar um jeito nisso. Ah se vou... Chega! - Olha aquiiii,... meu cabelo! Precisando de corte, de uma pintura...
- Deus! Acho que engordei uns três quilos, nessa semana.
- Eu não tinha esta ruga aqui... Olha!
- Ai! quebrei minha unha ... É falta de esmalte! ... Tô envelhecendo de tanto que me mato de trabalhar. E o nosso Mister X a ouvir, aouvir sem dar um alento.
- Que olheiras!... Também, que mais eu poderia querer? Não tenho tempo prá mim!... Só vivo em função de casa, roupas, marido, filhos, escola!...
- Que falta de um tempo só prá mim! Ai, ai... Sentar numa avenida debaixo de um coqueiro..., sentir o aroma das flores, obsrevar um po do sol, sonhar de mão dadas com... Ele nem me ajuda em nada! Ora... Como estou boba. e seguem as divagações. Ver gente bonita passando feliz, sorrindo... Sem pensar em casa, pó, roupas, comida, louça, camas, lençóis... Mas será que essa gente sorri de verdade?
- Ah!... Essa não!... Era só o que me faltava! Antes do tempo? Tomara que chegue logo a menopausa, para acabar logo com essa chatice! Mas, e os calorões? - Tomo banho de água gelada! Melhor, me enfio dentro do tanque. Além disso, no inverno, não vou mais parecer um urso com tanta roupa. Será menos roupa, para por na máquina, para por no varal. Ah! Roupa, roupa e mais roupa!
Já sei, porquê de não estar me sentindo assim.
- Já hora de fazer o almoço? Primeiro, ponho as roupas na máquina... Não vou separar. E as bolinhas?
- As horas correm. O tempo voa. E como voa!
A rotina, desgasta, cansa, entedia, traz o que chamo de "Stress feminino do lar" mas...
Um dia, sentiremos falta. Muita saudade!
Todos voltando.
- Vão lavar as mãos.
Sentando à mesa. Comendo felizes:
- Manhê, quero mais.
Tagarelando sem parar. Cada qual querendo contar, primeiro a sua novidade.
- Não fala de boca cheia! ...
Um dia, eles voarão ... Alto! Cada vez mais alto. Cada um para o seu galho, perto, longe...
O ninho sem os filhotinhos, já empenados. Com um casal, arrulhando, relembrando: "Nunca mais será, mais o que foi."
E nós? Saudosas, ansiosas, para que voltem. E, que pelo menos, uns poucos dias, tenhamos uma rotina agitada. Fazendo tudo para agradar a cada um, já pensando que, de novo, voarão!
É... Assim é o ciclo da vida. Portanto, aproveitemos o tempo de filhotes, o máximo que pudermos. Com cansaço e com rotina. Nãda importa.
O importante é que estão sob nossas asas.
Publicado em 10/03/2014