SAÍDA
Você sabia que embrenhar em um ambiente desconhecido poderia provocar tumulto, ser rejeitado ou ficar à mercê de circunstâncias inesperadas, mas ignorou esse tumulto, teimosamente insistiu em invadir.
Fez igual um balão defeituoso de ar, que enche esplendidamente, alcança voo e de repente explode no espaço.
Enquanto tentava se ambientar você não se desmanchou porque carrega dentro de si a leveza de uma pluma, acredita que tudo pode se modificar à medida que as partes vão se ajustando. Acreditou que teria o controle da situação e era forte o suficiente para dominar o espaço, mas ninguém é forte ou grande para tanto, somos grãos que precisam ser nutridos. Podemos ser semeados, fortalecidos e dar bons frutos, mas a essência sempre será de um grão, frágil e pequeno. Um dia esse grão recebe água e se fortalece, no outro, uma tempestade o arrasta e não é raro o grão desfalecer.
Tem conhecimento de que as crianças possuem energias açucaradas - a vida, o olhar e as intenções das crianças são doces e tanta doçura contagia, mas nem todos adultos possuem a doçura dentro de si.
Sabia que existe rua sem saída, mesmo assim entrou, percorreu labirintos, reconheceu cenários e até personagens no caminho. Cogitou construir paredes que fortalecessem o seu eu, ignorando que quando entrou naquele ambiente os muros já estavam construídos e qualquer modificação poderia desmoronar os muros existentes.
Consciente de que não conseguiu se ambientar, gradativamente foi disfarçando o pesar, desprezando justificativas porque as mesmas desencadeiam tantos tumultos quanto a sua entrada impetuosa naquele ambiente. Desenvolveu um disfarce revestido de fragilidade que só um olhar sensível é capaz de perceber.
Os pássaros percorrem distâncias, buscam alimento e podem invadir qualquer ambiente, mas você não atingiu o voo dos pássaros ou se sentiu nutrido no ambiente que invadiu.
E o mais frustrante de tudo é que agora você anseia pela liberdade, busca a saída e não a encontra.