Sara Timóteo - Entrevistada

Sara Timóteo - Entrevistada

Por Shirley M. Cavalcante (SMC)

 

Sara Timóteo publicou «Deixai-me Cantar a Floresta» e «Chama Fria ou Lucidez» em 2011 pela Papiro Editora na sequência da atribuição, respetivamente, do 1º e do 2º lugar no 2º Concurso de Poesia Aníbal Faustino em 2009. Publicou em 2012 «Refúgio Misterioso»; em 2014 publicou «Os Passos de Sólon» (prémio Mensagem Notável atribuído pela Lua de Marfim Editora), «Elixir Vitae» e «Os Quatro Ventos da Alma» (menção especial no Prémio Literário Glória Marreiros 2014), todos através da Lua de Marfim Editora. Em 2015, publicou «O Telejornal» (peça de teatro infantil) através dos Cadernos de Santa Maria. Em 2016, publicou «O Corolário das Palavras» (Rui M. Publishing, e-book) e o livro de poesia «Refracções Zero» pela Orquídea Edições. Tem dois livros de não-ficção e um livro de poesia bilingue publicados nos EUA.

 

“Esta obra pretende retratar o quão somos influenciáveis pelos meios de comunicação social e de que modo o pensamento se converte em arma de desconhecimento quando é reduzido à mimese.”

 

Boa Leitura!

 

Escritora Sara Timóteo, é um prazer contarmos com a sua participação na Revista Divulga Escritor. Você tem vários livros publicados, sendo a maioria de poesia. Qual dos seus livros de poesia a surpreendeu após ser publicado? E surpreendeu-a porquê?

Sara Timóteo - Todos os livros que publiquei me surpreenderam após serem trazidos à luz do dia. Gostaria, no entanto, de referir que, neste aspecto, a obra «Os Passos de Sólon» me tomou de surpresa um pouco mais do que as outras publicadas até hoje, pois o labor gráfico traduziu na perfeição a mensagem solar do livro, que foi escrito na Sardenha durante um período de férias e depois burilado durante cerca de nove anos antes de o submeter a escrutínio público.

 

«Refracções Zero» é o último livro. O que a levou a publicá-lo e o que tem de especial esta obra? O que a distingue dos outros livros de poesia?

Sara Timóteo - A edição do livro «Refracções Zero» teve a sua génese num prémio atribuído pelo Grupo Múltiplas Histórias ao poema com o qual participei na colectânea “Palavras de Veludo”. A edição e publicação do livro foi o prémio atribuído; de modo, aliás, não muito diverso do que sucedeu com «O Telejornal» e «O Corolário das Palavras», cuja edição foi também oferta das respectivas editoras por via da participação em concursos literários.

O conjunto de poemas que constitui «Refracções Zero» surgiu a partir de um exercício (pouco) lógico de pensamento sobre o que sucederia se a Humanidade procurasse recuperar um olhar límpido sobre todas as coisas a partir de um momento de catástrofe – a morte de todos os poetas.

Talvez o que distinga «Refracções Zero» dos outros livros de poesia que publiquei até à data seja essa tessitura de palavras urdida num registo pós-apocalíptico.

 

O que mais a encanta nos textos poéticos?

Sara Timóteo - Na minha perspectiva, a escrita de textos poéticos corresponde a um exercício literário de enorme precisão. O que mais me encanta na poesia é a capacidade que nos confere de experimentarmos, de novo, o deslumbramento próprio de um olhar de primeira infância sobre as coisas, quase como se essas coisas tivessem renascido para nós.

 

Quais foram os principais desafios para a escrita de uma novela?

Sara Timóteo - A novela traduz uma forma narrativa que caiu em desuso entre nós, apesar de contarmos com grandes novelistas entre os melhores e maiores escritores de língua portuguesa. Creio que os desafios são os mesmos que se apresentam no decurso do exercício de qualquer outra modalidade de escrita literária: conciliar a concisão com a beleza e o domínio técnico da palavra com a inovação expressiva no uso da mesma.

 

O que a inspirou a escrever a novela «Os Quatro Ventos da Alma»?

Sara Timóteo - «Os Quatro Ventos da Alma» é uma novela que surgiu por via da tentativa de alcançar uma narrativa lúcida sobre como é ser mulher e sobreviver, no século XXI, à dinâmica de uma sociedade cujo eixo axiológico se reduz ao poder.

 

Dizem que os personagens têm muito dos seus autores. Qual dos personagens de «Os Quatro Ventos da Alma» tem mais de você? Por quê?

Sara Timóteo - Joana, sem dúvida. A construção de Joana enquanto personagem foi muito onerosa para mim, pois torna-se desafiante converter em observação impessoal algumas vivências que parecem ser tão próprias de cada um de nós. Talvez os pontos de contacto entre Sara e Joana sejam, por um lado, uma certa fragilidade intrínseca a uma jovem adulta com poucos recursos emocionais e financeiros face a dinâmicas de poder dominadas ainda por homens astutos e sem escrúpulos; e, por outro lado, o esforço constante de auto-superação dos impulsos destrutivos em prol de um futuro que se pretende mais luminoso. A meu ver, Joana, como tantas mulheres pós-adolescentes, procura obter a alforria num mundo dominado por uma lógica de mercantilização dos sentimentos e da inteligência.

 

Conte-nos um pouco sobre «O Telejornal»…

Sara Timóteo - «O Telejornal» é uma peça de teatro que escrevi a pedido de uma grande amiga. A Sofia é professora do primeiro ciclo do ensino básico e solicitou a minha ajuda para criar uma peça para a festa de Natal da escola. Assim nasceu «O Telejornal», que se baseia nos bastidores de um jornal televisivo. A peça foi encenada antes de ser publicada e fez um grande sucesso entre os elementos da comunidade educativa afecta à escola em causa.

 

Qual é a mensagem que você quer transmitir aos leitores através do enredo que compõe a obra?

Sara Timóteo - Esta obra pretende retratar o quão somos influenciáveis pelos meios de comunicação social e de que modo o pensamento se converte em arma de desconhecimento quando é reduzido à mimese.

 

Pode falar também sobre algum outro dos seus livros que deseje destacar?

Sara Timóteo - Gostaria de destacar «Os Passos de Sólon» pela clareza do olhar que busquei ao longo de todas as páginas que o constituem. Este livro representa nove anos de trabalho e acredito que foi alcançado um patamar de concisão que, desde sempre, porfiei por transmitir aos leitores.

 

Embora tenha já uma vasta obra publicada, mais de dez livros, continua a participar regularmente em diversos projectos colectivos de várias editoras, sejam colectâneas, antologias ou obras resultantes de concursos literários. Faz isso por alguma razão especial? E que importância atribui a essas obras?

Sara Timóteo - A participação nos projectos colectivos de várias editoras é importante para que me mantenha actualizada enquanto escritora sem recair na mimese. Estas obras representam, para mim, um exercício de liberdade que me avassala e me retira da zona de conforto que fui criando ao longo dos anos. A meu ver, os escritores não devem instalar-se em sofás a partir dos quais comuniquem para o resto do mundo; procuro praticar esse princípio e constato que os convites para participar em vários desafios literários me obrigam a abandonar, sem remissão, o banco ou o armário onde, por vezes, me aninho enquanto crio.

 

Onde podemos comprar os seus livros?

https://pesquisa.fnac.pt/ia434190/Sara-Timoteo

https://www.bertrand.pt/autores/autor?id=2429540

https://www.wook.pt/autor/sara-timoteo/2429540

 

Quais são os seus principais objetivos como escritora?

Sara Timóteo - Pensar bem.

 

Pois bem, estamos chegando ao fim da entrevista. Muito bom conhecer melhor a escritora Sara Timóteo. Agradecemos a sua participação na Revista Divulga Escritor. Para finalizar, conte-nos o que cada leitor pode fazer, em sua opinião, para ajudar a vencermos os desafios encontrados no mercado literário.

Sara Timóteo - O mercado literário, como todos os outros mercados, encontra-se na dependência (e também usufruto) de situações sazonais e de preferências por parte dos consumidores (os leitores). A meu ver, e sem pretender imiscuir-me em lógicas de comercialização e de distribuição que não correspondem às minhas áreas de estudo e especialização, a resposta encontra-se, como sempre, no consumidor final, pois é este que escolhe o livro que vai ler e/ou oferecer a alguém querido. Se tudo parte de uma decisão de consumo, teremos de encontrar modo de nos assegurarmos de que essa decisão é informada e consciente, não obstante o facto de concordarmos ou não com a mesma.

 

 

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