SEDE
Ele acordou sedento, querendo concluir todas as tarefas que ficaram pendentes no dia anterior. Tarefas atrasadas de dias anteriores. Afazeres intermináveis, uma batalha contra o tempo. Satisfazer as pessoas ao redor, dar um basta para as situações que não cessavam de chegar.
Continuamente a palavra quase estava presente em seu cotidiano e nas suas ações – quase concluía, quase deu certo, quase.
No trabalho, abraçou inúmeras tarefas, quis modificar algumas mas acabou não concluindo nenhuma. Recebeu ligações, absorveu mais problemas, quis fugir. Alguém chamou a sua atenção, outro o elogiou, mas foi a crítica recebida que predominou em seu cérebro.
Durante o dia ele vive um estado de agitação, durante a noite sufoca os monstros. Monstros que sugam as suas energias e o fazem correr freneticamente. É nessa corrida que ele desperta com tremenda sede - sede decorrente do acúmulo de tarefas que contribui para que ele deixe de olhar para si e viver as coisas da alma.
A sede e o desejo de superação são maiores do que ele, maiores do que os seus braços, gigantes diante do estado de paz que ele necessita e ignora. Então a sede o maltrata, e continuará maltratando enquanto ele não perceber que são os pequenos passos aliados a pequenos goles que vão matar a sua sede.
Sedento ele permanecerá enquanto reter o aguaceiro da vida, porque as coisas da alma não correm, elas caminham. Bem nutridas elas são capazes de fluir positivamente evitando tamanha sede.