Solidão - Anchieta Antunes

Solidão - Anchieta Antunes

SOLIDÃO

             VASTIDÃO       

                             AMPLITUDE    

         Observado de uma altitude de 800  metros, percebe-se um minúsculo pontinho na vastidão do deserto de Atacama, no Chile.  Com a aproximação vemos não se tratar  apenas de um pontinho, mas de algo que se movimenta, que tem tração própria ou movimento  através da combustão de gases. Mais de perto  ainda, vemos tratar-se de um individuo com anatomia,  com pernas, braços, cabeça, tronco e membros, ou seja um homem, na acepção geral do   termo. Um ser pensante com vontades, desejos, objetivos e esperanças no futuro escondido nos dias que ainda não aportaram no cais dos desejos.

         Esse homem está incrustado na vastidão do alcance visual do  andarilho aventureiro, sozinho por opção, solitário por circunstancias geográficas, e cansado pela exposição solar. Caminhar é a sua sina, sua volúpia de caminhante solitário, convencido que está,  de que desta maneira, e somente desta, poderá encontrar as respostas para suas inúmeras dúvidas existenciais.

         A solidão tem por companheiro o próprio solitário, um esgar de cumplicidade  vagueando com sua sombra  que  nunca o abandona (desde que haja  sol). Com ela, ele baila e conversa, sorri olhando para um  futuro vestido de escuridão indevassável. A solidão é leve como o ar, flutua ao redor  das asas das borboletas, reveste-se de sisudez e intemperança. A solidão é o mestre “zen” tentando  conduzir a mente que não para de brincar e se mexer de um acontecimento para outro, sem um minuto de paz, para a busca do  significado da vida,  da grande e absoluta proeza da existência, da busca incessante pela saída do gigantesco  labirinto de cada dia e seu conteúdo. A solidão é um intrincado de becos, e ruelas  sem saída,   que só mostra a porta da rua quando somos acudidos pela fé inabalável  na criação que somos, no tosco que nos acomete, revestidos de feições, movimentos e decisões prolatadas pelo caráter que nos foi inserido.

         A solidão é o espaço vazio  que está sempre pronto para receber as palavras que possamos escrever em seu leito cristalino, revelando quem e o que somos, sem mentiras ou truques de malabares.   Somos palhaços ou  “lordes” : a escolha é nossa. No caminhar provecto dos saltimbancos, a nobreza sucumbiu perante a inatividade, a indolência dos vencidos, a covardia dos preguiçosos. A solidão é o tudo e o nada. A escolha é sua.

 SUSTENTE   O   PÊNDULO   NO   CENTRO   DA   VERTENTE.

A solidão é a vestimenta de gala do errante, enquanto a vastidão é o tapete vermelho do aventureiro, daqueles que buscam o que conhecem e encontram o desconhecido. As surpresas que vão se acumulando ao longo da vida, formando montanhas de experiências; algumas boas, outras desastrosas. Como se costuma dizer:  “nada é perfeito”... E o andarilho continua caminhando na sua busca incessante, à procura do que não perdeu, e encontrando o que não queria. No deserto de Atacama o horizonte é de areia, outras vezes de sal; não há muito o que ver,  a não ser o azul infinito da distancia, e eu, na qualidade de produtor da historia, posso transportar meu personagem para outras paragens. Escolhi para meu errante uma mega cidade: Nova Iorque.

Nova Iorque com  suas multidões de habitantes, de automóveis, ônibus, bicicletas, turistas, passeantes, errantes, andarilhos, gente de todas as nacionalidades, uma babel de idiomas, dialetos, costumes, comidas, cores e odores. Uma imensa cidade com um enorme coração pulsante, dando ritmo aos alicerces dos prédios, das avenidas, todos saltando ao  ritmo do vertiginoso látego esfuziante de uma vida acelerada.

Naquela  cidade ninguém está sozinho, e ao mesmo tempo, todos estão sós na multidão, nas calçadas abarrotadas de emoções, de descobrimentos no minuto imediato, surpresas, encantamentos e bulício. À noite os relâmpagos piscam incessantes e coloridos, desenhando corpos, beijos, propagandas, clareando ruas e  becos, bares e museus, clareando as teias do “homem aranha”, que voa capturando os meliantes, salvando a donzela aprisionada, recebendo os aplausos da multidão que se apinha nas beiras das calçadas para saborear a aventura do cinema que encanta os jovens corações, os velhos cansados de emoções estereotipadas, da incessante gulodice de novas visões e sabores no espírito aventureiro de cada um.

Nosso ermitão encontra-se perdido na multidão, com o coração exaltado de tantas emoções em cascata, tantas visões inusitadas, tantos gostos desconhecidos e provados na pressa da curiosidade, no torvelinho de emoções multiplicadas a cada segundo. Ele não sabe para onde dar o próximo passo, para onde olhar e descobrir a visão nova de um mundo velho, o arcabouço de movimentos interrompidos pelo tempo passante, pela mão de Deus, pelo cavalo célere que carrega a caleça com turistas, pelo parque iluminado pelo Natal do bom Velinho. Tudo é novo, surpreendente e voraz como um prisma caleidoscópio de visões coloridas, brilhantes e perturbadoras.

Chegou o Natal, a festa da confraternização, o encontro universal para distribuição de amores, de aconchegos, carinhos e atenções desveladas pelo próximo, seja lá quem for o próximo. Natal, o encontro ecumênico, a graça de viver e ver luzes iluminando todos os corações em enlevo epistolar. Natal, a festa do menino e do velho que se afasta de mansinho para não despertar curiosidade; afasta-se para o descanso eterno e sereno.

Parece que este ainda não é o meu Natal  de retirada para o colo de Deus.

Vou comer bolo e tomar champagne com a família, com os amigos, com a mulher que adoro e com os  filhos queridos e amados para todo o sempre.

Que sejam todos muito felizes o tempo todo, afinal merecemos, nem que seja uma vez ao ano.

 

ALAOMPE

Anchieta Antunes – Copyright

Gravatá – 24/12/2014.

 

 

 

 

        

 

 

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