SUBSTANTIVO COMUM OU PRÓPRIO?
Ele sempre foi um bom garoto: comunicativo, alegre, inteligente...
De vez em quando, “soltava” uma “pérola”, uma frase genial, que surpreendia a todos.
Só havia um problema: não saía das ruas, o que preocupava os vizinhos condescendentes. O garoto era “criado solto”. A própria tia referia-se ao fato dessa forma:
_ O menino é assim, mesmo! Não adianta! Já falei pra sossegar! É uma peste! Nem sei com quem anda! Deus queira que não esteja envolvido com alguma coisa!
Enfim, acredito que o menino de onze anos tinha uma experiência de 18. Preocupante! Toda criança deveria ser, SOMENTE, criança! Parece óbvio o que digo, mas não o é, numa sociedade que antecipa a fase adulta e desconsidera a importância da “inocência”!
Por essas e outras, conversar com o menino, por hora era algo tenso... por hora ...interessante... por hora, agradável e, às vezes, até engraçado! Tudo dependia do contexto, do humor do menino e da pessoa com quem conversava.
Naquele dia, em que mil coisas passavam por minha mente: refletia sobre as catástrofes e demências do mundo... andava pela rua... distraidamente, quando, de repente fui abordada por nosso “pequenino”:
_ Mirian! Mirian!
_ Oi?!
_ Você conhece o Cupim?
_ Oi?! Cupim?!
_ Não! Claro que, não! Por quê?
_ Por nada! Só pra saber!
_ Deveria conhecer?
_ Esquece, Mirian! Deixe pra lá!
Fiquei com aquilo na cabeça... martelando... martelando...
“Quem seria o Cupim?! O menino estaria se envolvendo com pessoas com as quais não deveria?!” – o pensamento não me deixava.
Passei uma tarde toda, preocupada... pensativa!
“Meu Deus! Com quem este menino está se envolvendo?!”
Quase perdi o dia todo, remoendo a cena... “ Quem seria o Cupim?”
Acho que não dormiria à noite, se não desvendasse parte do mistério.
Passadas algumas horas, deparei-me, novamente, com o menino na rua (Por acaso?) e, dessa vez, quem o chamou fui eu:
_ Ei! Ei!
_ Oi, Mirian! O que foi?
_ Escute! Aquela hora você me fez uma pergunta... Por quê?
_ Qual pergunta?
_ Sobre o Cupim! Quem é?
_ Cupim, Mirian! Você não conhece?
_ Não!
_ Aquele bichinho que come madeira!
_ Ah! – soltei uma risadinha sem graça.
Uma amiga, que se encontrava por perto, e havia acompanhado parte da história e meu desabafo, disfarçou a risada!
_ Ah! Conheço, sim! É o bichinho “cupim”! Conheço... Desculpe-me!
(A palavra deveria ser escrita com letra minúscula! Substantivo comum! Por que o enxerguei como substantivo próprio?!)
O menino se afastou sem entender nada e quanto a nós, gargalhamos, após a solução do “enigma”!
“Ô mundo complicado!”
“Ô Língua difícil!”
Substantivo comum! Claro! Graças a Deus, não era próprio! Ufa!
Poderia ter “dormido” sem essa...
MIRIAN MENEZES DE OLIVEIRA