TALVEZ
Ela procurava incansavelmente. Procurava a chave perdida, o abraço restrito, o fio de cabelo caído no chão. Coisas perdidas que só tinham relevância para ela.
Perdeu ou deliberadamente deixou perder? Talvez os rumores em sua volta tenham contribuído para que perdesse tais coisas. Talvez sim, talvez não.
Sabia que inúmeros fatores tinham colaborado para a ausência, que as coisas perdidas estavam relacionadas com tumultos. Como se tivesse pisado em cacos de vidro, tinha ferido. Por isso, a urgência em achar o que procurava.
Assim que encontrasse agiria rapidamente; com a chave, abriria a porta que a expulsou da situação. Desprezaria de uma vez por todas o abraço que de tão apertado já não agradava. Deixaria escapar pelo ralo do banheiro o fio de cabelo que não pertencia a sua cabeleira.
Sozinha ela procurava esses itens porque queria ter a certeza de que eles não mais atrapalhariam a sua vida. Ansiava enterrá-los.