TELEFONE COM FIO
por MIRIAN MENEZES DE OLIVEIRA
A metáfora responsável pelo título desta crônica enfrentou um exaustivo processo seletivo, cuja avaliadora fui “eu” , pois quem perderia tempo com tal coisa?!
Acredito que me aproximei da ideia pré-concebida.
Querem conhecer os outros títulos, que passaram pelo processo seletivo?
Vamos lá:
“Infância e adultices”;
“Infantilidades e Idade Adulta”;
“A criança que existe em mim”;
“A criança é o pai do homem” (Opa! Esta é do poeta inglês William Wordsworth; muito citada e, com propriedade, pelo grande Sigmundo Freud!) Talvez esta frase sintetizasse melhor o pensamento, mas optei por “TELEFONE COM FIO”.
Quem (pelo menos de minha geração!), nunca brincou de “TELEFONE SEM FIO”?
Todos sentados em círculo... A primeira criança formulava uma frase e, aos ouvidos de outra criança, proferia dizeres, que eram transmitidos, em sigilo absoluto, até o fechamento total do círculo. O último “infante” transmitia em “alta voz”, a suposta mensagem, ou, pelo menos, o que havia conseguido entender.
Meu Deus! Quanto maior o círculo, PIOR!
Certa vez, fui porta-voz de um grupo e choquei todos os demais participantes, com minha frase bizarra:
“A ‘galinha’ beijou na boca o namorado da Gina... pra frente... pra frente... pra frente!”
Que frase mais ridícula e comprometedora! Verbalizei a mensagem recebida, mas não acreditei no que ouvi e tive que expressar...
Felizmente, esta brincadeira sempre ofereceu a oportunidade de ESCLARECIMENTO. No dia em questão, após as inevitáveis risadas, a interlocutora inicial expressou, literalmente, a frase:
“A coxinha chegou com atraso, na cantina! Vamos gente!”
Nossa! E se não houvesse a oportunidade de colocar tudo “às claras”?!
Certamente, teríamos um casal de namorados separados e um grande mal estar no grupo de meninas.
Ainda sobre “TELEFONES SEM FIO”, certa vez, já adulta, fui acometida por uma pneumonia. Na época, lembro-me de ter agradecido a muitos amigos verdadeiros, que me telefonaram pelo aparelho convencional e outros até me visitaram. Senti-me muito amada e acolhida.
Interessante foi o fato posterior, logo após meu restabelecimento, quando no primeiro dia de trabalho, escutei a pergunta:
“Como foi a cirurgia de útero?”
Não sabia o que responder, mas a frase: “A criança é o pai do homem” soou-me muito forte!
Inacreditáveis são os “chiados” e “interferências” ocorridos no processo comunicativo!
Entre os interlocutores, há incríveis “abismos”... ouso chamá-los de “BURACOS NEGROS”, onde as verdadeiras informações se perdem eternamente e não conseguimos retomá-las.
Perigoso... isso!
Na era digital, em que o “telefone sem fio” tornou-se muito mais rápido, CUIDADO! Se algo o afeta, diretamente, ou atinge um ser humano, ao qual você considera, verdadeiramente, VÁ À FONTE PRIMÁRIA! RECUSE ATRAVESSADORES!
Na dúvida, utilize o ‘TELEFONE COM FIO”... Isso se a SUPOSTA verdade ofender sua dignidade, ou a de uma pessoa amada...
O poder imaginativo não possui limites, mas convém que se restrinja à literatura, às artes, aos sonhos...
Sendo assim, a frase:
“A galinha beijou na boca o namorado da Gina” combina mais com as brincadeiras infantis, onde não corre o risco de se transformar em um axioma, ou numa verdade universal.
Eta “criatividade sem limites” a do ser humano!
Bichinho complicado, não?!