Testemunho do Eu Religioso
João Bezerra da Silva Neto
Quando o ser humano atinge a maturidade, independentemente dos anos de vida transcorridos, começa a pensar sobre a vida, e o que fez das imposições sociais até então digeridas. Passa a filosofar em torno do porquê da vida, na ânsia de encontrar um rumo certo a seguir. Entre tantas inquirições o eu religioso entra em cena.
Sabemos que o individuo traz na essência a religiosidade latente, pelo condicionamento daquilo que se encontra registrado na sua individualidade como ser pensante. A essência de Deus é inata em cada ser humano desde sua criação espiritual. No entanto, o meio em que foi introduzido, nesta vida, é fundamental para sua reflexão, escolha e aprendizado, donde aflora sua religiosidade. Cada ser humano tem seu DNA religioso.
Lembremo-nos de que religiosidade e religião são coisas diferentes:
Religião é entendida como o meio para exercício da fé. Busca-se uma religião com o fito de experimentar o numinoso existente em si, na ânsia de compreender a divindade e, incessantemente buscá-lo para sua proteção e evolução espiritual.
Religiosidade, assim, vem a ser a busca da transcendência para que o homem vivencie a sua espiritualidade. É esta manifestação da religiosidade, que difere de um para outro.
Sendo atributo de fé, a religiosidade de cada um é, em dado momento, manipulada pela influência da família na imposição da religião a professar, ou seja: nascem, crescem e direcionam seus filhos sem lhes dar a liberdade de escolha, dizem: o que é bom para mim é bom para os meus filhos. Uns se apegam a essas castas, não dando asas ao pensamento, passam a viver toda sua existência sob as rédeas de um princípio religioso ao qual foram inseridos. Outros, impulsionados pela falta de ambiente religioso migram de templos a templos procurando algo que lhe satisfaçam como quem procura produtos em uma feira livre. Outros, até não sentem necessidade de religião. Sua religiosidade basta para acreditarem em um ser supremo, indefinido, embora só O busque quando em extrema necessidade.
Outros, ainda, avessos a ideia de Deus, insistem em negá-LO mais pelo mau exemplo dos que se dizem acreditar Nele e agem ao contrário do que seria andar no caminho do bem, do que seu próprio sentimento em relação a Ele.
Outros, enfim, diante da fé cega rebelam-se, não aceitam mais o “goela adentro”, passam a inquirir tudo o que é artigo de fé, tornam-se livres pensadores. A fé raciocinada é sua lei. Mesmo porque não se deve acreditar no que não se coaduna com a razão, como disse o Mestre Lionês Hyppolite Lèon Denizard Rivail, vulgo Allan Kardec: “Fé inabalável é somente aquela que pode encarar a razão, face a face, em todas as épocas da humanidade”.
Religião é meio, não é fim. Sendo meio, não pode existir um único princípio. Sendo diversos esses princípios é natural não se afinarem todos, mesmo tendo em vista um único fim. A uns preenche seus vazios, a outros não. Eu gosto de ser católico. Eu gosto do protestantismo. Eu me afino com o espiritismo, etc., portanto, devemos compreender, respeitar e parar com essa disputa religiosa que não leva a nada.
Este é o princípio pelo qual se deve, necessariamente, respeitar a fé alheia.
e-mail: joao.digicon@gmail.com