Traços
Ainda esta noite sonhei contigo.
Não sou nada além do pó da vida
E me agarro a tua mão
Num pedido mudo para renascer em ti.
Somos o encontro tardio
Que um vento brando gritou baixinho
Com medo de acordar-me deste sonho.
Estou farta e fatigada de sofrer
De gritar feito uma flor despetalada
Inutilmente, pois ninguém me pode ouvir.
Canto agora para ti
Que me fizestes poeta
Para que a minha oração fosse ouvida
E esqueço-me de mim já agora tão amante
E ouço-te o meu nome chamar
Nessa estrada rude e certa
Onde caminho sem ser reconhecida.
Nas tuas mãos descanso o meu cansaço
E na tua boca troco beijos em furor
E quando adormeço segura, no teu abraço,
Vejo que é nosso, este sonho de amor.
Quando acordar e vir a tua face
Com os dedos de carinho e paixão
Desenharei na minha memória
O teu rosto, traço por traço.
Lígia Beltrão