Trecho do livro O pontinho desapontado (Palmira Heine)
Era uma vez um ponto final. Ele era da mesma família da vírgula, da interrogação e das reticências. Porém, se sentia muito triste. Sentia-se culpado por ter que finalizar as coisas, por determinar um final para frases, parágrafos, livros e também para os momentos... Sua irmã vírgula, pensava ele, deveria ser bem mais feliz. Ela não tinha que finalizar nada, apenas indicava uma breve pausa nos momentos que, depois dela continuavam a acontecer. E as reticências? Ah, como deveria ser bom ser reticências e indicar um algo mais, o sentimento não dito, as palavras que estão por vir... Até a interrogação estava numa melhor posição em relação ao ponto. Ela levava as pessoas a obterem respostas para as coisas e assim, contribuía para a construção dos conhecimentos. E ele? Era apenas um ponto final. Um terrível, abominável ponto final. Era ele que acabava os momentos.... Era ele que terminava os livros que ainda tinham muito a dizer... Começou, então, a passar por uma crise existencial (coisa que ele achava que só ocorria entre os complicados seres humanos).
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