Um procedimento rápido
Ela chegou cedinho para se internar num hospital moderno, daqueles cujos equipamentos, conhecimentos e organização são de última geração. O prédio, de arquitetura moderníssima, com porta de vidro com uma faixa colorida no centro, que mal dá para ver e que muita gente se arrebenta nela, recepção com ar condicionado, mesa de café disponível... essas coisas.
- Bom dia! Vim para me internar.
- Bom dia. Qual o nome da senhora, disse a recepcionista, elegantemente.
- Ana Outeiro.
- Perfeitamente D. Ana, vou chamar a enfermeira que irá acompanhá-la ao quarto.
- Ao quarto, disse Ana, mas meu médico disse que seria um procedimento rápido.
- Aguarde, a enfermeira conversará com a senhora.
- Bom dia D. Ana, disse a simpática enfermeira, me acompanhe.]
- Enfermeira, esse procedimento é rápido, não é?
- É sim, mas a senhora deverá esperar no quarto, ficará mais confortável.
Chegaram ao quarto, Ana muito ansiosa perguntou:
- Onde está o Dr. Andrew?
- Ele já virá, agora quem virá é o médico anestesista.
- Como anestesista? O procedimento é rápido...
- Bom dia D.Ana, uma voz forte ecoou pelo quarto, sou o Dr. Benedito, anestesista, vou fazer-lhe algumas perguntas...
- Pois não.
Após todas as perguntas...
- Mas por que tudo isto?
- Você vai fazer uma biópsia.
Neste momento entra no quarto, Tereza, empregada doméstica de Ana, pega somente o final da última palavra, ou seja opsia deduziu:
- Uma autopsia? Perguntou assustada Tereza.
Ana que já estava subindo pelas tamancas, virou-se para Tereza furiosa...
- Não é autopsia, eu não morri, espero sair deste hospital do mesmo jeito que entrei, em pé!
- Desculpe D. Ana. Tereza saiu de fininho, conhecia bem sua patroa.
Tereza,senhora vinda dos cafundós, não fazia a menor idéia do que seria uma biopsia
- Calma, calma D.Ana, a biopsia é feita com anestesia geral, porém, bem fraquinha.
- De maneira nenhuma! Falei para meu médico: não posso ficar muito tempo no hospital, meus filhos são pequenos, estudam à tarde, e depois ... preciso trabalhar.
- D. Ana disse Dr.Benedito pausadamente, aguarde aqui no quarto, logo, logo, Dr. Andrew virá.
As horas foram passando, o nervosismo aumentando, o ponteiro do relógio insistindo em não sair do lugar, e para piorar a situação ninguém aparecia naquele quarto para dizer o que estava acontecendo, completamente sem controle,
-Prinprinprinprinprinprin
Apertou a campainha para chamar a enfermeira com tanta força que esta disparou.
Continuou falando com seus botões...
- Caramba! Essa encrenca disparou. Vai encher de enfermeiros no quarto, com certeza não serão tão amistosos.
De repente...
- Nossa quanta gente? Ironizou Ana
Realmente tinham mais enfermeiros no quarto do que os que estavam de plantão no andar.
- Pois não senhora! A enfermeira, entrou no quarto igual a um furacão.
- O que está acontecendo, são 13h00, minha pequena cirurgia era para as 7h00! Estou morrendo de fome!.
- Surgiu um problema, as cirurgias estão todas atrasadas. Respondeu a enfermeira.
- E eu com isto! Quero falar com o Dr. Andrew agora mesmo!.
Neste momento....
- Vamos D.Ana, está na hora da sua cirurgia.
Entraram no quarto; duas técnicas de enfermagem e um enfermeiro.
- Venha, isso, para esta maca, com cuidado. Está tudo bem? Agora vamos levá-la ao elevador que nos conduzirá ao centro cirúrgico. Mas para complicar a situação o elevador de pacientes estava quebrado, entraram no elevador social.
Sintam o drama... Ela de olhos fechados, sem suas peças íntimas, somente com aquela roupa indecente e horrorosa do centro cirúrgico, uma touca ridícula na cabeça e uma coisa, igualmente estranha nos pés, que eles chamam de sapatos, e para piorar a situação, um lençol branco por cima, muito suspeito.
Cansou de ficar com os olhos fechados abriu-os para espiar ao redor. Todos que estavam no elevador a olhavam com curiosidade mas não estavam nem aí pra ela, falavam, riam... sentiu-se ridícula, deu um sorriso amarelo, pensou “Que alternativa”!
Na porta do centro cirúrgico...
- Onde está o Dr. Andrew, perguntou Ana, ao chegar.
- Logo ele virá, agora vou lhe dar a anestesia e tudo ficará bem.
- Bem uma ova! Sentou-se na maca decidida. Se o Dr. Andrew não aparecer agora mesmo, vou embora daqui! Desse procedimento rápido! Ironizou.
Dali a pouco...
- Então é a senhora que está causando este tumulto no centro cirúrgico? Brincou Dr. Andrew
- E não é para fazer? Que procedimento rápido este, não é. Falou muito irritada com o médico.
- Prometo que não irá demorar, mais nada. Deite, vamos começar.
Pensei
“ Como? Se aqui parece que vai acontecer uma festa”.
Todos no centro cirúrgico na maior conversaiada (algazarra), de repente...fui ficando cada vez mais zonza; as vozes das pessoas cada vez mais distantes...
Adormeci com todos os ruídos do meu tempo, para aquele procedimento rápido.