Um procedimento rápido - por Christina Hernandes

Um procedimento rápido - por Christina Hernandes

Um procedimento rápido

 

Ela chegou cedinho para se internar num hospital moderno, daqueles cujos equipamentos, conhecimentos e organização são de última geração. O prédio, de arquitetura moderníssima, com porta de vidro com uma faixa colorida no centro, que mal  dá  para ver e que muita gente se arrebenta nela, recepção com ar condicionado, mesa de café disponível... essas coisas.

- Bom dia! Vim para me internar.

- Bom dia. Qual o nome da senhora, disse a recepcionista, elegantemente.

- Ana  Outeiro.

- Perfeitamente D. Ana, vou chamar a enfermeira que irá acompanhá-la ao quarto.

- Ao quarto, disse Ana, mas meu médico disse que seria um procedimento rápido.

- Aguarde, a enfermeira conversará com a senhora.

- Bom dia D. Ana, disse a simpática enfermeira, me acompanhe.]

- Enfermeira, esse procedimento é rápido, não é?

- É sim, mas a senhora deverá esperar no quarto, ficará mais confortável.

Chegaram ao quarto, Ana muito ansiosa  perguntou:

- Onde está o Dr. Andrew?

- Ele já virá, agora quem virá é o médico anestesista.

- Como anestesista? O procedimento é rápido...

- Bom dia D.Ana, uma voz forte ecoou pelo quarto, sou o Dr. Benedito, anestesista,  vou fazer-lhe algumas perguntas...

- Pois não.

Após todas as perguntas...

- Mas por que tudo isto?

- Você vai fazer uma biópsia.

Neste momento entra no quarto, Tereza, empregada doméstica de Ana, pega somente o final da última palavra, ou seja  opsia deduziu:

- Uma autopsia? Perguntou assustada Tereza.

Ana que já estava subindo pelas tamancas, virou-se para Tereza furiosa...

- Não é autopsia, eu não morri, espero sair deste hospital do mesmo jeito que entrei, em pé!

- Desculpe D. Ana. Tereza saiu de fininho, conhecia bem sua patroa.

Tereza,senhora vinda dos cafundós, não fazia a menor idéia do que seria uma biopsia

- Calma, calma D.Ana, a biopsia é feita com anestesia geral, porém, bem fraquinha.

- De maneira nenhuma! Falei para meu médico: não posso ficar muito tempo  no hospital, meus filhos são pequenos, estudam à tarde, e depois ... preciso trabalhar.

- D. Ana  disse Dr.Benedito pausadamente, aguarde aqui no quarto, logo, logo, Dr. Andrew virá.

As horas foram passando, o nervosismo aumentando, o ponteiro do relógio insistindo em não sair do lugar, e para piorar a situação ninguém aparecia naquele quarto para dizer o que estava acontecendo, completamente sem controle,

-Prinprinprinprinprinprin

Apertou a campainha para chamar a enfermeira com tanta força que esta  disparou.

Continuou falando com seus botões...

- Caramba! Essa encrenca disparou. Vai encher de enfermeiros no quarto, com certeza não serão tão amistosos.

De repente...

- Nossa quanta gente? Ironizou Ana

Realmente tinham mais enfermeiros no quarto  do que os que estavam de plantão no andar.

- Pois não senhora! A enfermeira, entrou no quarto igual a um furacão.

- O que está acontecendo, são 13h00, minha pequena cirurgia era para as 7h00! Estou morrendo de fome!.

- Surgiu um problema, as cirurgias estão todas atrasadas. Respondeu a enfermeira.

- E eu com isto! Quero falar com o Dr. Andrew agora mesmo!.

Neste momento....

- Vamos D.Ana, está na hora da sua cirurgia.

Entraram no quarto; duas técnicas de enfermagem e um enfermeiro.

- Venha, isso, para esta  maca, com cuidado. Está tudo bem? Agora vamos levá-la ao elevador que nos conduzirá ao centro cirúrgico. Mas para complicar a situação o elevador de pacientes estava quebrado, entraram no elevador social.

Sintam o drama... Ela de olhos fechados, sem suas peças íntimas, somente com aquela roupa indecente e horrorosa do centro cirúrgico, uma touca ridícula na cabeça e uma coisa, igualmente estranha nos pés, que eles chamam de sapatos, e para piorar a situação, um lençol branco por cima, muito suspeito.

Cansou de ficar com os olhos fechados abriu-os para espiar  ao redor. Todos que estavam no elevador a olhavam com curiosidade mas não estavam nem aí pra ela, falavam, riam... sentiu-se ridícula, deu um sorriso amarelo, pensou “Que alternativa”!

Na porta do centro cirúrgico...

- Onde está o Dr. Andrew, perguntou Ana,  ao chegar.

- Logo ele virá, agora vou lhe dar a anestesia e tudo ficará bem.

- Bem uma ova! Sentou-se na maca decidida. Se o Dr. Andrew não aparecer agora mesmo, vou embora daqui! Desse procedimento rápido! Ironizou.

Dali a pouco...

- Então é a senhora que  está causando este tumulto no centro cirúrgico? Brincou Dr. Andrew

- E não é para fazer? Que procedimento rápido este, não é.  Falou muito irritada com o médico.

- Prometo que não irá  demorar, mais nada. Deite, vamos começar.

Pensei

“ Como? Se aqui parece que vai acontecer uma festa”.

Todos no centro cirúrgico na maior conversaiada (algazarra), de repente...fui ficando cada vez mais zonza; as vozes das pessoas  cada vez mais distantes...

Adormeci com todos os ruídos do meu tempo, para aquele procedimento rápido.

 

 

 

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