Uma paixão de arco íris
Desde criança sou apaixonada pelo arco íris. Sua beleza atravessando o céu naquelas cores maravilhosas! Além é claro, das muitas histórias dos duendes, gnomos, potes de ouro e da misteriosa e vasta floresta encantada que guarda os grandes segredos, dele e dos seus protegidos.
Cresci e em nome desse encantamento, de minha intensa e inesgotável imaginação, incorporei esse mágico espetáculo da natureza, como mais um amuleto de beleza e sorte na minha vida. E assim, sempre que alguma coisa que eu desejasse se parecesse longínqua e inatingível, eu logo a denominava; desejos, sonhos ou amores de arco íris.
Antes chegar ao assunto principal, para melhor entendimento, vou contar um costume cigano que só tomei conhecimento quando passei a andar com os mesmos. É hábito entre as famílias acertarem casamento de seus filhos, ainda crianças. Firmam aliança, e fazem um noivado festivo, com valores estabelecidos e ratificado com a palavra como documento. Ficando estabelecida a data, local e dote, no caso dos pais das meninas. O casamento era realizado com os mesmos ainda adolescentes, numa festa linda! Cheia de rituais, muita dança, muita comida e muita alegria!
Pois bem. Certa vez, nas minhas andanças com um adorável grupo de ciganos que praticamente me adotou incondicionalmente, me ensinando coisas e valores que até hoje são imprescindíveis ao meu cotidiano. Eu e minha grudada amiga, resolvemos desafiar os meandros do destino. Eu e minha amiga Hyde, cigana, prometida desde os seis anos e já de casamento marcado no promissor povoado de almendralejo, resolvemos, numa disputa descontraída de par ou impar, nos insinuarmos astutamente para o garbo e belo Wlais. Cigano, de olhos lindos, parecendo duas safiras azuis brilhantes. A aposta, um colar de moedas de latão, e ganhava quem conquistasse por um momento, o dono daquele sorriso motejador, cativante e sinceramente, atraente e travesso.
Com uma voz única, num romanes sensual, Wlais, passou a nos dar especial atenção. Dançarino esbelto e vaidoso. Nas noites de luas cheias exibia-se como um pavão em esvoaçantes e precisos rodopios, Que desde então passou a fazer tudo, sempre com o olhar cravado em nossa direção.
Foram meses de leveza, delicadeza, risos e mistérios em noites sem luas. Havia no ar, suspiros, mãos distraídas roçando umas nas outras. E músicas apaixonadas que falava de amores impossíveis e verdadeiros.
Até que amanheceu uma segunda-feira com cara de última, espalhando no acampamento um alarido estupefato, cheio de dramas, choro e lamentos inconsoláveis. Eu, tanto quanto todos dali, empalidecida e muda. Fitava Toda aquela cena, enquanto meu peito sangrava desiludido e traído. Aquela calin(cigana) me usou, me enganou. Fugiu com o colon(cigano) lindo! Por isso eles cantaram tanto “sarsas katxiatiat” (como se fosse esta última noite)! Deixaram esta pobre gadjo com cara de tacho, no meio de uma tremenda confusão.
Tempos depois, fiquei sabendo que eu jamais teria chance com aquele cigano. Eles não se relacionam afetivamente com pessoas não ciganas. Segundo a tradição; pessoas não ciganas não cultivam e nem preservam costumes. E mais, também não conhecem os segredos para manter um casamento para a vida toda.
Foi quando mais uma vez me dei conta de que tudo não passou de uma linda e inesquecível paixão de arco íris.