Vida e Morte
A vida é uma sucessão de dias, em que cada um, se nos põe mais um desafio quando tanto já lutámos e só nos apetece descansar. Uma ilusão de que a morte se adia e ela vem, quando menos se espera, sem avisar. Um dia escrevi que há que viver... Para "descansar" e dormir, teremos toda uma eternidade. Hoje não sei se quero dormir eternamente. Fico consequentemente com um dilema entre mãos: Se por um lado fico esgotada de viver dia, após dia, morrer será uma completa desilusão... Que não posso ultrapassar. Assim sendo, o que fazer?
Tenho tanto ainda que queria realizar, dentro de mim... Mas os braços pendem-me. As pernas tornam-se pesadas para caminhar. Depois a minha estrela empalideceu. Não é tão fulgurante e furiosa, ou não parece a certa altura que faça mais qualquer coisa na vida, que me ilumine. E concluo mais desiludida:
Todos a quem ajudei, me entreguei verdadeiramente de coração, me desiludiram. Amo e sobra-me o amor que tenho. Por vezes dói-me o corpo de tanto amor e estendo-o, recolhendo pedras e paus. Não sei se me resta muita vontade de continuar a combater moinhos de vento, que só eu vejo. Preciso urgentemente de um abraço, do teu beijo para me sentir... Viva! Contraponho que talvez na morte possa ser mais ditosa. Porquanto me revolte a ideia de ir, deixando para trás tudo o que comigo ansiava levar. Fico com o peito apertado e à beira de chorar. É inquietante que uma das condições da partida, seja uma despedida abrupta e tudo que "acumulaste" fique! Não queria poder "levar" bens materiais. Queria ir e voltar, quando pudesse, sem que a minha presença prejudicasse quem amo mais. Queria segui-los, a todos. Protegê-los, continuar a amar. Erro, crasso!
Acabou-se a oportunidade! Eu que sou claustrofóbica vou ter que ficar sozinha ali, no escuro e fechada. Sem ninguém que me abrace, me sossegue. Como aquela criança que tem medo da escuridão e necessita de uma luz de presença. E onde ficas tu, minha luz? Quero-te, comigo! Seria egoísta.
Seria infame querer "levar-te" para me dares a mão, mas quantos não se unem e vão descansar!
Tristemente: Será uma etapa que todos fazem sós, como nascer. Mas seria extremamente divertido, absolutamente hilariante que do outro lado houvesse rostos conhecidos à nossa espera. Fosse tão infinitamente bonito o reencontro. Frustrante e desolador, será, se só quem nos abrace, seja apenas a terra! Resta uma consolação. Se dela vim, a ela retorno... Fim de citação!
(Maria de Fátima Soares)