VIDA LIGEIRA...
E já é inverno! ... sabe? O tempo tem sua maneira especial de mover-se rápido e encontrar-te desprevenido no passar dos anos.
Parece que ontem eu era jovem, recém-casado, embarcando em minha nova vida com minha mulher. Isto faz 32 anos. Porém de certa forma parece que já faz muito tempo e agora penso: para onde foram os anos? Sei que os vivi todos. Tenho visões de como foi naquela época e de todas as minhas esperanças e sonhos.
Contudo, aqui está o inverno de minha vida que “me agarrou de surpresa”. Como cheguei tão rápido?
Para aonde se foram os anos?
Para aonde foi a juventude?
Recordo bem haver visto pessoas mais velhas através dos anos, e pensava que aquelas pessoas estavam muito longe, e que esse inverno estava tão distante de mim que não podia imaginar como seria estar involucrado nele.
Mas, aqui estou, e meus amigos estão retirados, alguns para sempre, outros se tornando prateados, movendo-se lentamente como uma pessoa cansada de viver, que não tem pressa em alcançar o fim da linha. Alguns estão em melhor forma, outros pior que eu; ainda consigo ver a grande diferença. Não como as que relembro, quando éramos jovens e vibrantes, senão como eu, quando a idade começa a se mostrar. Agora somos aquelas pessoas mais velhas que sempre víamos e que nunca pensava que um dia seria nossa realidade.
Agora vejo que tomar uma ducha é um dos acontecimentos reais e excruciante do dia! E que dormir uma siesta já não é algo agradável como era antes, mais parece uma obrigação! Porque se não o faço por própria vontade, simplesmente fico dormido onde estiver sentado. Minhas vontades estão falidas.
Assim que nesta nova etapa da vida que chegou sem aviso prévio ou preparação alguma para todas as dores e achaques inerentes, a perda da força ou habilidade para ir e fazer todas as coisas que quisera haver feito, mas que nunca o fiz, deixa-me acabrunhado. Mas, pelo menos sei que, ainda que o inverno tenha chegado, e que não sei quanto vai durar, sei sim, que quando se acabe esta etapa de vida, teremos outra oportunidade, num lugar mais ameno, sem contagem de tempo, sem dores e sofrimentos, sem expectativas, esperança e perspectiva. Teremos uma vida no vácuo. Outra aventura começará à nossa revelia.
Parece que agora ouço no seio de minha vivenda, um lamento de gentes que se afligem em busca de respostas para as quais as perguntas foram feitas de maneira errônea. Não há com o que se preocupar, pois que os acontecimentos virão independentes de nossos anseios, pois que não existem vontades a serem cumpridas, apenas destinos a se realizarem de maneira inexorável. Quando o grito de socorro fere nossos ouvidos, virar a cabeça para o outro lado, apenas distorce o som que se nos acolhe no outro ouvido, varrendo nossas vontades para longe do cotidiano. As penas nos chegam voando em direção ao nosso canglor de ignorância vivencial.
Cada um tem seu tempo de brincar. Espernear para confranger e conseguir um segundo tempo, não existe. Não estamos em uma partida de futebol. Se assim o fosse, quando o juiz apitasse o apito final, só nos restaria abandonar a arena onde corremos nossos encantos e devaneios. A partida está finita, não há prorrogação, nem decisão por pênaltis. O nosso jogo terminou aos 45 minutos, ou anos, ou encantos, paixões, amores, glórias, vitórias ou derrotas. A súmula foi assinada e arquivada. Agora já faz parte da história acontecida.
Quem ganhou a partida?
Se prestarmos atenção, veremos que quem ganhou foi a chegada. A nossa chegada a um mundo desconhecido, voluntarioso e obscuro.
–Foi bom!
É a única coisa sensata que podemos proferir.
Reclamar?
Para quem?
Com que propósito?
Qual o alcance da revolta?
Criatura de Deus vire-se para o outro lado, e volte a dormir. Nosso destino está traçado, e o foi sem o nosso concurso.
Jovens e velhos gritam heresias em busca de verdades escondidas nas dobras do tempo. Pura perda de tempo, pois que as respostas sempre estiveram escondidas dentro de nosso cérebro, talvez na glândula pineal, no mais recôndito escaninho de suas curvas inexplicáveis. Nunca vamos alcançá-las.
Hoje somos...
amanhã, fomos...
depois...
...saudade
Anchieta Antunes
31 de julho de 2016.