VISÃO MULTIFOCAL
Por Mirian Menezes de Oliveira
Bastou sair da ótica, com as novas lentes, para que as reflexões a arrebatassem de maneira assustadora.
As pessoas e os carros giravam...tudo parecia fora do lugar e o que até então era concreto... tornou-se um universo de superposições.
Aquela “labirintite” forjada acionou a caixa de pensamentos e, após o “distanciamento” do chão, os sentidos“denotativo” e “conotativo” da simplória experiência fundiram-se, transformando-se em frases completas, nem sempre perfeitas na estrutura, entretanto, reveladoras de um desejo imenso de refletir.
O fato é que, a partir daquele momento, teria que reeducar seu olhar: fixar, precisamente, os olhos para frente; aprender a abaixar a cabeça e movimentar-se delicadamente, ajustando foco e posições. Teria que se reposicionar diante dos objetos, para não prejudicar o entendimento das imagens.
A ousadia e a flexibilidade daquelas lentes exigiam focosmais precisos e, com certeza, maior “rigor”... E para quem não acredita que flexibilidade e rigor são parceiros necessários, talvez seja este um bom exemplo .
Surpreendente! Cada lente, absurdamente, uniforme na aparência, comportava focos tão distintos e sugeria a emergência de novos aprendizados.
É “fácil” alternar dois óculos... Difícil é conceber“unicidade” e “multiplicidade”...
E assim, a mulher teve que colocar os novos óculos na bolsa, esperando o momento certo de exercitar-se, corporal e mentalmente. Teria que caminhar dentro de casa; aventurar-se, eventualmente, pelo jardim e, somente após muito treino, deveria caminhar por ruas e avenidas, alargando seus espaços e visões.
“Olhar exige muita disciplina, ainda mais, quando sentimos necessidade de ampliar nosso foco de visão!” – assim pensava a mulher.
Confusa, mas, ao mesmo tempo, aliviada, diante de tantos pensamentos, guardou, temporariamente, os óculos na bolsa e partiu para a aventura de se reposicionar...
Por um bom tempo e de maneira vagarosa, reaprendeu posições e movimentos... Nunca a visão periférica lhe foi tão importante... Por que não havia prestado atenção nisso ainda?!
Digamos que, diante de tanta disciplina e rigor, muitos pontos de vista se ajustaram e as lentes, finalmente, ocupam o espaço correto: não mais na bolsa, mas à frente dos olhos, sedentos de LUZ!