Vitrines e Vidraças - por Mirian M. de Oliveira

Vitrines e Vidraças - por Mirian M. de Oliveira

VITRINES E VIDRAÇAS

 

Como  ser humano, mais ou menos comum, embora não possuída pelo espírito desenfreado do “capitalismo selvagem”, gosto, eventualmente, de olhar vitrines e me distrair um pouco. Além de comprar livros, livros e livros, não sinto que sou dominada por outra compulsão, entretanto gosto de observar o movimento dos centros comerciais, principalmente o das feiras livres. Não cartesiana, transito de um polo a outro.

Toda esta introdução não terá como desfecho, ou enredo, um passeio ao Shopping, mas é imprescindível que ocorra com detalhes, diante de um fato não tão atípico, vivido entre amigas.

Estávamos nós quatro:  horário de almoço antecipado, devido ao intenso dia de trabalho, iniciado mais cedo... Teríamos que retornar rapidamente...

A antecipação do almoço era bem vinda, pois não encontraríamos restaurantes cheios e o melhor de tudo:  poderíamos escolher o “restaurante”! Que maravilha!

Entramos no mesmo carro e deslocamo-nos, felizes da vida ao lugar escolhido. Por sorte, encontramos também um bom local para estacionar. Tudo perfeito! Dobramos a esquina e chegamos ao tão sonhado “recinto”!

SURPRESA! Restaurante fechado.

Olhamo-nos, mutuamente, e demos algumas risadinhas “nervosas”, rodopiando sobre a calçada...

_ Nossa! Nunca conseguimos chegar adiantadas e hoje que conseguimos está fechado?

Vimos uma atendente do lado de fora do estabelecimento:

_Abrirá hoje?

_ Sim – respondeu a moça – daqui a cinco minutos.

_ Ok, obrigada!

Rodopiamos, novamente, sobre a calçada, para dar um tempo para o cérebro e encaixar os neurônios no lugar. Logo após, caímos na gargalhada e resolvemos dar uma voltinha no quarteirão, pois já estávamos nos transformando em “vitrines”, pelo menos para a atendente e para os transeuntes. Melhor do que ser vidraça é ser vitrine; melhor ainda do que tudo é “olhar vitrines”... Decidimos inverter a situação e olhar os lançamentos das lojas. Mas que lojas? Havia só uma na esquina!

O jeito era disfarçar em frente aos manequins, olhar os escassos vestidos, por cinco eternos minutos.

_ Se pelo menos a loja estivesse aberta, poderíamos dar uma voltinha lá dentro!

LOJA FECHADA!

Vivemos a “teoria da relatividade”, de Einstein, nos cinco minutos  que se transformaram em cinco horas... Foi “cansativo”, mas, ao mesmo tempo, hilário.

Finalmente, a porta se abriu e fomos as primeiras a nos servir da comida quentinha e gostosa! Estava tudo perfeito! ESTAVA, MESMO?

ESTAVA! ESTAVA. ESTAVA?

Lógico que sim... A única coisa que saiu do controle foi uma azeitona entre 07 (sem caroços), que resolveu preservar sua identidade. Ao pegá-la com o garfo, ela pulou para um território estranho, não identificado. Não consegui encontrá-la embaixo da mesa e nenhuma de minhas amigas precisou ser avisada sobre o fato, pois todas enxergaram muito bem o atlético salto da “verdinha”. Apesar de todos os olhares, ela tornou-se invisível, pelo menos para nós.  Restava-nos extravasar as mal disfarçadas gargalhadas.

Que vexame! É fácil ver vitrines... Difícil é ser vitrine, ou vidraça! Já nem sei! Acho que vidraça é pior! Estou lançando este desafio para que o leitor se interesse pela semântica dessas palavras!

Não queríamos ser nem uma coisa, nem outra.

Por sorte ou azar, a gerente encontrou  “minha azeitona”, no meio do corredor.

_ Adriana, o que esta azeitona está fazendo aqui no meio, no corredor?

_Não sei, senhora!

_ Tudo bem, então! Não sei como foi acontecer isso! Que incrível! – e olhou para nós.

Não aguentamos... Tivemos que rir até o final do almoço. É lógico que, se a gerente interpretasse  mal a situação, eu me apresentaria como “culpada”, entretanto a “mea culpa” não se fez necessária.  Ninguém mais era vitrine... Pensando melhor, ninguém mais era vidraça, pois ser vidraça é pior!

Tivemos que alternar nossos movimentos bucais entre a mastigação e as inevitáveis gargalhadas.

Que pontaria! Será que é por que, no ginásio, apesar de baixinha, eu jogava basquete! Deixe para lá! Isso é o que menos importa! Esta crônica não serve para nada, mesmo! Só consigo pensar nos significados de “vitrine” e “vidraça”. Mania de não deixar os neurônios quietos!

E você? Já se sentiu assim? Vitrine, ou vidraça? Não responda!

 

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