VITRINES E VIDRAÇAS
Como ser humano, mais ou menos comum, embora não possuída pelo espírito desenfreado do “capitalismo selvagem”, gosto, eventualmente, de olhar vitrines e me distrair um pouco. Além de comprar livros, livros e livros, não sinto que sou dominada por outra compulsão, entretanto gosto de observar o movimento dos centros comerciais, principalmente o das feiras livres. Não cartesiana, transito de um polo a outro.
Toda esta introdução não terá como desfecho, ou enredo, um passeio ao Shopping, mas é imprescindível que ocorra com detalhes, diante de um fato não tão atípico, vivido entre amigas.
Estávamos nós quatro: horário de almoço antecipado, devido ao intenso dia de trabalho, iniciado mais cedo... Teríamos que retornar rapidamente...
A antecipação do almoço era bem vinda, pois não encontraríamos restaurantes cheios e o melhor de tudo: poderíamos escolher o “restaurante”! Que maravilha!
Entramos no mesmo carro e deslocamo-nos, felizes da vida ao lugar escolhido. Por sorte, encontramos também um bom local para estacionar. Tudo perfeito! Dobramos a esquina e chegamos ao tão sonhado “recinto”!
SURPRESA! Restaurante fechado.
Olhamo-nos, mutuamente, e demos algumas risadinhas “nervosas”, rodopiando sobre a calçada...
_ Nossa! Nunca conseguimos chegar adiantadas e hoje que conseguimos está fechado?
Vimos uma atendente do lado de fora do estabelecimento:
_Abrirá hoje?
_ Sim – respondeu a moça – daqui a cinco minutos.
_ Ok, obrigada!
Rodopiamos, novamente, sobre a calçada, para dar um tempo para o cérebro e encaixar os neurônios no lugar. Logo após, caímos na gargalhada e resolvemos dar uma voltinha no quarteirão, pois já estávamos nos transformando em “vitrines”, pelo menos para a atendente e para os transeuntes. Melhor do que ser vidraça é ser vitrine; melhor ainda do que tudo é “olhar vitrines”... Decidimos inverter a situação e olhar os lançamentos das lojas. Mas que lojas? Havia só uma na esquina!
O jeito era disfarçar em frente aos manequins, olhar os escassos vestidos, por cinco eternos minutos.
_ Se pelo menos a loja estivesse aberta, poderíamos dar uma voltinha lá dentro!
LOJA FECHADA!
Vivemos a “teoria da relatividade”, de Einstein, nos cinco minutos que se transformaram em cinco horas... Foi “cansativo”, mas, ao mesmo tempo, hilário.
Finalmente, a porta se abriu e fomos as primeiras a nos servir da comida quentinha e gostosa! Estava tudo perfeito! ESTAVA, MESMO?
ESTAVA! ESTAVA. ESTAVA?
Lógico que sim... A única coisa que saiu do controle foi uma azeitona entre 07 (sem caroços), que resolveu preservar sua identidade. Ao pegá-la com o garfo, ela pulou para um território estranho, não identificado. Não consegui encontrá-la embaixo da mesa e nenhuma de minhas amigas precisou ser avisada sobre o fato, pois todas enxergaram muito bem o atlético salto da “verdinha”. Apesar de todos os olhares, ela tornou-se invisível, pelo menos para nós. Restava-nos extravasar as mal disfarçadas gargalhadas.
Que vexame! É fácil ver vitrines... Difícil é ser vitrine, ou vidraça! Já nem sei! Acho que vidraça é pior! Estou lançando este desafio para que o leitor se interesse pela semântica dessas palavras!
Não queríamos ser nem uma coisa, nem outra.
Por sorte ou azar, a gerente encontrou “minha azeitona”, no meio do corredor.
_ Adriana, o que esta azeitona está fazendo aqui no meio, no corredor?
_Não sei, senhora!
_ Tudo bem, então! Não sei como foi acontecer isso! Que incrível! – e olhou para nós.
Não aguentamos... Tivemos que rir até o final do almoço. É lógico que, se a gerente interpretasse mal a situação, eu me apresentaria como “culpada”, entretanto a “mea culpa” não se fez necessária. Ninguém mais era vitrine... Pensando melhor, ninguém mais era vidraça, pois ser vidraça é pior!
Tivemos que alternar nossos movimentos bucais entre a mastigação e as inevitáveis gargalhadas.
Que pontaria! Será que é por que, no ginásio, apesar de baixinha, eu jogava basquete! Deixe para lá! Isso é o que menos importa! Esta crônica não serve para nada, mesmo! Só consigo pensar nos significados de “vitrine” e “vidraça”. Mania de não deixar os neurônios quietos!
E você? Já se sentiu assim? Vitrine, ou vidraça? Não responda!
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