XXII Congresso Brasileiro de Poesia - por Anchieta Antunes

XXII Congresso Brasileiro de Poesia - por Anchieta Antunes

XXII   CONGRESSO     BRASILEIRO      DE      POESIA.

 

BENTO   GONÇALVES   -   RS.

DE 6 A 11 DE OUTUBRO DE 2014.

HOTEL VINOCAP

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Eu estava no escuro, com a expectativa pipocando nos nervos.

ERA     A     MINHA      PRIMEIRA      VEZ...

TINHA  MEUS   RECEIOS,   OU   SERIA   MEDO   MESMO?

            Ela poderia aparecer a qualquer momento, era só dobrar a esquina e dar de cara com a surpresa desconhecida, ainda que esperada. Foram momentos de angustia e  pré-gozo. Ah! Meu Deus como será? Saberei me comportar à altura do esperado por todos? Que venha logo de uma vez, que apareça em carne e osso, preciso conhecer o sabor da volúpia da palavra sussurrada ao pé do  meu ouvido, sibilando cada letra.

 EIS   QUE   ELA   CHEGA   COM   TODA   SUA   GRAÇA   SINUOSA...

Falava com as mãos, com os olhos, com todo o corpo em contorção, era eloqüente e invasiva, atrevida e até mesmo um pouco descontrolada em seus movimentos ondulantes.

  A    POESIA    CHEGOU    PARA    DOMINAR...

Os poetas não passavam de veículos das imagens, das rimas, das mensagens, (marionetes) transportados à quintessência do prazer da palavra falada, da declamação, da força poética, do turbilhão de idéias arrumadas magistralmente.

Eu estava assistindo à abertura do XXII Congresso Brasileiro de Poesia, em Bento Gonçalves. Estava estático, abalado com tanta demonstração de liberalidade, de espontaneidade, de “estado poético”. Inibição! O que é isto?

Para mim que nunca havia participado de um evento tão brilhante de pura literatura, toda  aquela movimentação pareceu-me um                    

  “ADMIRAVEL   MUNDO   NOVO”  *(Aldous  Huxley)

Com os olhos esbugalhados procurava entender e gravar tudo o que via e ouvia. Uma cascata de novas informações deixava-me extasiado e ao mesmo tempo entusiasmado com o alvoroço dos diletantes poetas e poetisas. Tentei absorver uma enxurrada de palavras novas, ou pelo menos, colocadas em situações desconhecidas para mim: “licença   poética”. Alguma coisa ficou registrada nos meus parcos neurônios, outras ficaram deambulando nas vias da cidade serra.

De manhã cedo, címbalos sonoros e prudentes visitavam  nossos leitos para a chamada geral do café matinal. Eu me levantava com os olhos cheios de sono e  só conseguia acordar embaixo do chuveiro, após o choque térmico. Vestia-me depressa e descia para ouvir os primeiros chilreios ritmados. Com a boca mastigava os alimentos,  (por sinal um excelente café matutino), e com os ouvidos deleitava-me com os estribilhos recitados; um bálsamo para qualquer espírito em êxtase.

Na porta do hotel olhava para cima, para baixo e percebia o regato de letras danadinhas libertas, e independentes,  descendo em louca corrida, ladeira abaixo, com lúdico alvoroço, para  se  encontrarem no banco da praça lá embaixo, em frente à Prefeitura. A postos  já havia um declamador, apenas esperando aquela tempestade de letras agruparem-se, formando palavras, versos, e, finalmente, mais uma poesia sendo exaltada a plenos pulmões em praça publica. O ritmo cadenciado da poesia bem proposta, passeia na cabeça de cada um, formando uma canção particular e romântica, singular e pujante, furibunda e flamejante, às vezes vestida de vermelho. O meu  amigo poeta Renato Gusmão, a  quem saúdo com saudade,   “pegou um  Ita no norte”  e foi ver o peso da poesia nas bandas frias do Rio Grande do Sul, em  Bento bendita e  escanchada no cimo da serra, com suas brumas de nuvens brancas. Com sua voz quente do norte e o vigor de seus poemas, ele desfilou rimas e ritmos, e até mesmo ritos na declamação de seu gênero literário.

Lilia Diniz, foi um “show” à parte, interpretando a doceira “Cora Coralina”, deleitou-nos com sua magistral interpretação de uma aluna que, naqueles idos, apanhava de “palmatória” , gritava de dor na alma, dor essa perpetrada pela injustiça dos tempos de antão. Chorei e aplaudi, sorri e participei, de longe, do pequeno trecho da obra da grande poetisa, na voz vibrante e cheia de emoção de Lilia Diniz. Que menina linda, que grande atriz.

Mais um dia estava começando, mais uma jornada literária, mais versos, mais sonoridade, mais exaltação artística  na rua, no palco, nas escolas, nos presídios, no hotel, no auditório, na alma de cada um. Todos participaram, todos declamaram de memória ou lendo, seus poemas escritos quem sabe a que hora da noite solitária no recanto de cada escrevinhador. A inspiração não marca hora para nos visitar, vem quando quer, e vai entrando sem pedir licença, na nossa cabeça como se fosse  a amante  despudorada,  manhosa e mandona, como se estivesse segura de ser a esteira de nosso  sucesso; e parece que é mesmo.

Vi-me envolvido numa espiral de cordões de seda regados a fluidos essenciais e inspiradores; ouvi as cordas do violão plangente  refutando  duvidas e tristezas, ouvi a pancada do pandeiro cadenciado nas mãos de um profissional competente, deleitei-me com a voz robusta da seresteira em arrebatamento romântico e melífluo, ri com todo meu corpo quando desfrutei da interpretação da jovem atriz imitando nordestinos em desabalada carreira pelos sertões da seca perversa. A arte pura, sem mistura e sem prazo de validade desfilando no meu cristalino, enchia meu espírito de leveza, de candidez e felicidade, transbordando meus limites corpóreos.

Acalentei os versos de Claudia Gonçalves, a candura de Marisa Cajado, o atropelamento de Edmilson Santini, a arte pura em forma de versos de Artur Gomes e José Salgado Maranhão; o malabarismo gestual de Sady Bianchi, as águas mornas do Amazonas de Fernando Pessoa, aquele de Belém do Pará, não o lusitano saudoso.   Cataguases foi lembrada e reverenciada pelo augusto nome do poeta Ronaldo Werneck. Talentoso e simples como uma folha verde, romântico e sensível quanto a seiva da mesma folha verde. Um ilustre SENHOR, um imponente POETA.  

 Arrepiei-me com o trabalho incansável de Ademir Bacca, que não parava um minuto, que organizava, que providenciava, que resolvia, que dispensava e convocava, que não deixou nada ao acaso. Uma coordenação perfeita, irrefutável, brilhante e digna de meus maiores encômios.

 “PERFEIÇÃO       BACCA”

Marca registrada, copyright, direitos reservados, inimitável, intraduzível, afinal de contas estamos falando da PERFEIÇÃO BACCA.  Nada menos, nada mais.

Arrepiei meus cabelos brancos  porque vi-me circunscrito no circulo do amor tangível, preso nas tenazes de alvoroçadas paixões incandescentes, constantes e mutantes, rápidas, vorazes e passageiras; alegres, juvenis, risonhas e felizes. Apaixonei-me varias vezes por dia, amei todas as poetisas, todos os poemas, todos os poetas; desfrutei de cada vírgula, envolvi-me nas curvas das interrogações, saltei o ponto e vírgula, e parei nos dois pontos. Não me deixei escravizar pelos “parêntesis”, nem coloquei meus pés na reticência, não duvidei da interjeição.  Amei  todos muitas vezes por dia, consciente de que

 “O  AMOR  POÉTICO   É   VERTICAL”.

Chegou o dia da despedida...  o momento dos adeuses, dos abraços e de algumas lagrimas escorrendo face abaixo. Não gosto de dizer “adeus”, não gosto de olhar para trás e ver o momento passado, a esquina dobrada, o passo caminhado, as nuvens caídas, não gosto do sopro da saudade no meu cogote. Não gosto... parti e aqui estou escrevendo meus devaneios e saudades... não gosto.

Bento Gonçalves que nos espere em 2015.

Será que estarei menos observador e mais participativo? O tempo dirá!

 

 

ALAOMPE

Anchieta Antunes – “copyright”

Gravatá -  24/10/2014.

 

 

 

 

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